«UMA RODA DE VELHOS SEIOS DESPEITADOS RABUJANDO A PRETEXTO DE CHÁ», ALEXANDRE O´NEILL a nova casa de chá da roda de seios arrebitados e mesmo nada despeitados das miúdas do rabujando.blogspot.com
sábado, 6 de novembro de 2010
A fome
Segundo o Expresso de hoje, os professores abrem as escolas ao sabados para matar a fome aos alunos. O Ministerio da Educação ja reagiu, dizendo que a acumulação de funções não tem cabimentação orçamental. Admite contudo ceder aos Sindicatos e permitir que a qualidade do serviço de mesas possa vir a ser um item avaliativo.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
terça-feira, 26 de outubro de 2010
weird on top
Em nome da decência pública, os autarcas de Castellammare di Stabia, em Itália, aprovaram ontem uma lei que pune com coima de 25€ a 500€ quem andar na rua vestido com falta de decoro.
Deixem lá os grupos de revolta do Facebook. Em vez disso riam, com estes exemplares de leis em vigor um pouco pelo globo, segundo o jornal "i" de hoje:
-em Israel, é proibido levar ursos para a praia,
-em França, um porco não se pode chamar Napoleão,
-na Austrália, só um electricista especializado pode mudar uma lâmpada,
-na Suíça, é proibido estender roupa ao Domingo,
-na Dinamarca, é proibido arrancar com um automóvel enquanto estiver uma pessoa debaixo dele.
E o vencedor: em Lérida, Espanha, as prostitutas de beira de estrada estão a ser multadas. Porquê? Porque não usam colete reflector.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
história de uma bancarrota
Era muitas vezes um pai de família que ganhava 1.000€ e que queria comprar uma casa por 100.000€.
Pediu um empréstimo ao banco.
Ficou com um défice nas suas contas de 99.000€, mais coisa menos coisa, mas nunca pensou nisso.
Depois quis comprar um carro e pediu outro.
Depois quis mobílias novas e um LCD e telefonou para uns senhores que lhe emprestaram o dinheiro, sem muitas perguntas e sem que fossem preciso fiadores.
O défice das suas contas já não tinha conta, nem ele sabia qual era.
Um belo dia ia a passar no centro comercial, onde tinha ido resmungar porque o canal de desporto não estava a funcionar bem lá em casa, e ofereceram-lhe um cartão de crédito, azul, com 500€ à sua disposição.
Vinha mesmo a calhar, porque quando tinha de levar o carro à revisão ou pagar os livros escolares o dinheiro faltava e tinha de ir pedir favores à avó de família, que esperava pelas férias e pelo Natal para receber o que generosamente emprestara, embora com juros, que não era nenhuma santa…
Deitava-lhe contas que o cartão cobriria agora as pequenas faltas e que o 13º e o 14º também haveriam de cobrir as despesas do cartão, sem pedir favores a ninguém.
Na ceia de Natal de um desses gloriosos anos, a irmã Manuela, à vista de uma fabulosa pista de comboios e de um aeroporto modelista oferecido aos sobrinhos (que, em boa verdade, mais embevecia o pai de família), comprados com o cartãozito azul, avisou o pai que aquilo eram despesas a mais e que estava preocupada com o futuro dos sobrinhos, que ainda haviam de sofrer com tanta prodigalidade.
O rating da família estava a contas com a desgraça, disse-lhe a irmã, mas o pai de família achou que, não notando nada, logo se via.
Sem que o pai de família soubesse, ou lhe interessasse por aí além, o negócio começou a correr mal aos senhores do telefone; parece que tinham emprestado dinheiro a impulsos telefónicos a gente que não tinha como pagar!
O banco que todos os meses recebia do pai de família as prestações do empréstimo da casa, comprou, aos senhores do telefone, a dívida das mobílias e do LCD do pai de família, passando a receber todos os meses as prestações que ele pagava.
A seu tempo, o banco precisou de reforçar o seu capital, à conta de impulsos também exagerados, e vendeu a dívida das mobílias e do LCD a um banco estrangeiro; não importa de onde, o pai de família não soube e não quis saber, pagava sempre o mesmo.
Num dia mau, o pai de família despistou-se ao volante do seu carro, que ficou em muito mau estado.
O seguro, contra terceiros, não servia para nada.
Corria o mês de Janeiro, não havia subsídio à vista e o cartãozito azul não dava para aquilo, mesmo que ainda tivesse dinheiro disponível, que já não tinha.
Havia que pedir à avó de família, mais uma vez.
Mas a avó, numa conversa com a mãe, apercebeu-se do rating da família, a contas com a desgraça.
Com medo de que nunca viesse a receber o capital, exigiu-lhe juros elevados, que devia pagar todos os meses, sempre era algum que não se perdia.
Não havia outro remédio senão aceitar.
Mas havia que acalmar a avó, não fosse necessário recorrer-lhe outra vez e enfrentar nova e sufocante subida de juros.
Que fez o pai de família?
Pediu um empréstimo ao banco.
Ficou com um défice nas suas contas de 99.000€, mais coisa menos coisa, mas nunca pensou nisso.
Depois quis comprar um carro e pediu outro.
Depois quis mobílias novas e um LCD e telefonou para uns senhores que lhe emprestaram o dinheiro, sem muitas perguntas e sem que fossem preciso fiadores.
O défice das suas contas já não tinha conta, nem ele sabia qual era.
Um belo dia ia a passar no centro comercial, onde tinha ido resmungar porque o canal de desporto não estava a funcionar bem lá em casa, e ofereceram-lhe um cartão de crédito, azul, com 500€ à sua disposição.
Vinha mesmo a calhar, porque quando tinha de levar o carro à revisão ou pagar os livros escolares o dinheiro faltava e tinha de ir pedir favores à avó de família, que esperava pelas férias e pelo Natal para receber o que generosamente emprestara, embora com juros, que não era nenhuma santa…
Deitava-lhe contas que o cartão cobriria agora as pequenas faltas e que o 13º e o 14º também haveriam de cobrir as despesas do cartão, sem pedir favores a ninguém.
Na ceia de Natal de um desses gloriosos anos, a irmã Manuela, à vista de uma fabulosa pista de comboios e de um aeroporto modelista oferecido aos sobrinhos (que, em boa verdade, mais embevecia o pai de família), comprados com o cartãozito azul, avisou o pai que aquilo eram despesas a mais e que estava preocupada com o futuro dos sobrinhos, que ainda haviam de sofrer com tanta prodigalidade.
O rating da família estava a contas com a desgraça, disse-lhe a irmã, mas o pai de família achou que, não notando nada, logo se via.
Sem que o pai de família soubesse, ou lhe interessasse por aí além, o negócio começou a correr mal aos senhores do telefone; parece que tinham emprestado dinheiro a impulsos telefónicos a gente que não tinha como pagar!
O banco que todos os meses recebia do pai de família as prestações do empréstimo da casa, comprou, aos senhores do telefone, a dívida das mobílias e do LCD do pai de família, passando a receber todos os meses as prestações que ele pagava.
A seu tempo, o banco precisou de reforçar o seu capital, à conta de impulsos também exagerados, e vendeu a dívida das mobílias e do LCD a um banco estrangeiro; não importa de onde, o pai de família não soube e não quis saber, pagava sempre o mesmo.
Num dia mau, o pai de família despistou-se ao volante do seu carro, que ficou em muito mau estado.
O seguro, contra terceiros, não servia para nada.
Corria o mês de Janeiro, não havia subsídio à vista e o cartãozito azul não dava para aquilo, mesmo que ainda tivesse dinheiro disponível, que já não tinha.
Havia que pedir à avó de família, mais uma vez.
Mas a avó, numa conversa com a mãe, apercebeu-se do rating da família, a contas com a desgraça.
Com medo de que nunca viesse a receber o capital, exigiu-lhe juros elevados, que devia pagar todos os meses, sempre era algum que não se perdia.
Não havia outro remédio senão aceitar.
Mas havia que acalmar a avó, não fosse necessário recorrer-lhe outra vez e enfrentar nova e sufocante subida de juros.
Que fez o pai de família?
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Felicidade ( s )
Cresceu na Chacara da Fumaça, e foi lá que ao som do Samba, ainda menina, se enrolou, primeiro nos braços e depois nos abraços de Zé João, homem rude, que não resitira á frescura dos seios roliços, que se debruçavam, todos os dias, no balcão da venda de hortaliça.
Zé João saciou a vontade e o desejo, que a frescura haviam despertado, durante cinco longos anos, e partiu depois, sem palavras, como chegara, deixando-a, murcha e sem viço, tal como as hortaliças no final da venda... e com os frutos do desejo incontido: João José e Manuel João.
A braços com a venda, e sem os abraços, que lhe desgastaram o viço e lhe deixaram duas bocas para sustentar, Malu, entregou o negócio e o coração a um chileno emigrado, que chegara ao Brasil em busca de sol, caipirinhas, e mulheres, que o fizessem esquecer a paixão por Dolores, mulher de vários homens e de muitas artes, nas quais, todos os que caiam na sua cama, se deixavam enredar.
Malu e Diego... viram dias a fio nascer o sol... partilharam desejos... cansaram dias e noites... e cansaram-se da dureza dos dias e de não poderem saciar os rapazes só com o amor que sentiam....
Na favela onde viviam cada um ditava as leis porque regia a vida....
Um dia à beira do desgaste e da escassez de meios, que não se bastava com afectos, Malu e Diego, juntaram os proventos de um negócio de guaranás e goiabas, e rumaram a Lisboa com os rapazes, quase adolescentes.
Diego não teve dificuldade em arranjar emprego numa fábrica de rolhas na margem Sul... onde não lhe exigiram documentos, nem legalização. Os rapazes passaram também a acompanhá-lo e a ajudar, na embalagem de rolhas e tampas....
A pouco e pouco foram ganhando o respeito e a consideração de companheiros e vizinhos....a que não foi alheio o facto de morarem paredes meias com o Palácio de Belém...chegando a ser apelidados de « amigos do Presidente »...
Malu ganhou ainda a confiança da patroa a quem passou a servir diáriamante, na gestão doméstica....
Depois, rendeu-se à facilidade de meios, à escassez de controle e ao excesso de confiança, e passou a fazer render o tempo...servindo no mesmo horário e com cumulação de salários, a patroa, o ex-marido e uma amiga, desta...
A vida começou finalmente a sorrir a Malu e Diego.... os quatro salários e os dois subsidios de desemprego, deixaram-nos amealhar alguns cêntimos, que se engrossaram em euros, e lhes permitiram comprar um carrito em segunda mão, que Diego conduz, velozmente, e sem carta, aos fins-de-semana, na Marginal... e à segunda-feira à noite, para ir levar Malu ao shopping onde, omitindo sempre a emissão de facturas, factura mais uns euros, alongando com gel as unhas das madames....sem tormentos de IVA....e com a serenidade permitida pela estabilidade conjuntural....
Quando alguém um dia lhe disse que podem ter problemas com a policia e com a lei.... Malu respondeu incrédula:
- Pouxa, neste País tudo é crime?!?! Não acredito, não!
Malu e Diego vivem o dia a dia serenos e são agora completamente felizes....
E, enquanto os patrões mantém a televisão ligada, na expectativa de ver o desfecho da palhaçada.... eles agarram no comando, desligam a TV.. e saiem, gargalhando, para encontrar um boteco e beber uma caipirinha....
República

Os olhos dos nossos pais já estavam vidrados no écran a preto e branco. Seria o FMI? A bancarrota? Um golpe revolucionário de direita? Fosse o que fosse, tinham de ouvir com solenidade. Um homem da Revolução não enganava os seus concidadãos. Não lhes chamava portugueses com aquele tom de voz em vão.
E era assim. Apesar da sua figura caricata, da farda militar já desajustada aos tempos, das patilhas desmesuradas e do penteado da Manela, era o nosso Presidente. Representava a República e a República nunca era ridícula e merecia respeito. E aquele Presidente podia não ser o melhor do Mundo, mas de certeza que estava a tentar fazer o seu melhor. Até os monárquicos assim pensavam. Quase diria que, na altura, nunca ninguém tinha visto um boy. Sabia-se que existia, mas cá, de certeza, que ainda não havia disso.
Tal como nesses tempos, estamos em crise e há medidas a comunicar ao país. Só que, quando vemos o metrosexual Sócrates e o pobre Cavaco na televisão, desde logo,o nosso cérebro recusa violentamente a ideia de que representam a República. Em seguida, a nossa vontade é a de mudar, imediatamente, de canal (felizmente a tv cabo já foi inventada e temos setenta canais à disposição). E à última da hora só não mudamos para a fox life, para a 20ª repetição do episódio da série Irmãos e Irmãs em que a Kitty descobre que sofre de cancro, porque pensamos: Deixa lá ver o que estes vão dizer para saber onde é que esta palhaçada vai acabar!
E é quase sem espanto que ficamos a saber o que já sabiamos. Que em vez de representarem a República, eles e os seus boys não hesitam em tornar sua a res publica. Que em vez de darem o seu melhor pelo país, fazem-no pelos seus interesses privados. Que usam e abusam da comunicação social para manipular e aterrorizar o povo, que já não sabe no que acreditar. Que todos os outros políticos farão exactamente o mesmo quando colocados no seu lugar. Para onde terá ido a República? Que saudades da inocência e da palavra portugueses a invadir o meu jantar.
domingo, 19 de setembro de 2010
A IMPOTÊNCIA
Sou impotente, digo-lhe, a ele, ao médico, que está do outro lado, ensimesmado no quê? na sua própria impotência?, e não param de me dizer, é que não param de me dizer, tudo está na tua cabeça, tudo está na tua cabeça, mas como mudar de cabeça? pergunto, pergunto-lhe. nunca ninguém me respondeu, sabe? e fico assim, todos os dias a sentir a impotência dentro da minha cabeça. faço o quê?, olho o médico que não me vê, corto a cabeça? é isso, corto a cabeça?? talvez assim a coisa funcionasse. sem cabeça perderia a impotência? que lhe parece? pergunto a quem não me ouve, nunca me ouvirá. Corte a cabeça, responde-me, vai ver que se cortar a cabeça terá logo uma erecção, e ri-se num riso rouco e cruel, rouco e cruel de quê? de homem potente? Mas doutor, continuo sem desconserto, posso eu ter uma erecção sendo uma mulher? e o médico de longas lunetas desapaixonadas levanta pela primeira vez os olhos do cachimbo que demoradamente enchia de tabaco. Mulher? interroga surpreso, mas não disse que era impotente. Disse e reafirmo, sou uma mulher impotente. Se você é mulher o seu problema não é a impotência, é sim a histeria, as hormonas enlouquecidas por ausência de filhos. tem filhos? pergunta. E poderia, sendo eu impotente? respondo. Estéril? riposta. Não, não, impotente, totalmente impotente, reafirmo. os olhos do médico lampejam, quase grita, Só os homens são impotentes. não a posso ajudar minha senhora, a minha especialidade é a impotência sexual não a psiquiatria. Mas tudo está ou não na cabeça? recomeço. Sim, responde-me, mas para os homens, só para os homens. Só os homens têm cabeça? inquiro. agora os berros são bem audíveis. As senhoras também têm cabeça, ainda que a senhora pareça ter perdido a sua, mas mesmo que mudasse de cabeça nunca poderia perder a sua impotência, percebe? Então é mesmo verdade que para mim que sou mulher a impotência é o destino? lágrimas percorrem-me a face. Não, não, a senhora nunca poderá é ser impotente, por não ter potência, percebe? afirma exasperado. Mas é exactamente por isso que sou impotente, quase grito de felicidade!!!
FIM
FIM
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
fall
Hauschka - Morgenrot from Jeff Desom on Vimeo.
é só isto. acontece, por vezes, este silêncio cadente.
domingo, 12 de setembro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
Enigmas e sapatos
- Dra. Belinha, posso mandar entrar as pessoas para a diligência das 14h?
Na sua frente sentaram-se, uma mulher na casa dos 50, vestida de forma simples, sóbria e cuidada, um homem na casa dos 30, camisa branca, cabelo um pouco comprido, e grisalho e uma outra mulher, que já devia ter entrado nos 40, desgrenhada, pouco cuidada e aparentado grande nervosismo.
- A senhora foi despedida? - perguntou à mulher desgrenhada e nervosa, que a olhava fixamente não conseguindo esconder a sua raiva.
- Despedia sim, e paguei-lhe tudo, não entendo porque estamos aqui. Eu e o meu marido - disse apontando o homem de camisa branca, que esboçava um sorriso timido -, somos pessoas sérias.
Contas feitas, e números regateados pela mesma mulher, sairam todos: a mulher na casa dos 50, empunhando o cheque, que garantia os seus direitos, o homem sorrindo, como entrara, e a primeira mulher plasmando no rosto a raiva que não conseguira nunca esconder.
Missão cumprinda, olhou o relógio, arrumou, após assinada alguma papelada, enquanto pensava que se aproximava a hora de sair rumo ao glamour de uma noite de compras VIP, e à promessa que recebera num e-mail, de uma das lojas mais prestigiadas da cidade, de ganhar um par de sapatos Louboutin,
As ruas de Lisboa fervilhavam de musica, cor, glamour e sedução.
Comiam-se gelados... bombons e marrones adoçavam as bocas .. havia maçãs, champanhe.... e muita gente bonita ... ou que havia feito todos os possiveis para o parecer....
Depois de deixar a Av. da Liberdade, e o restaurante japonês no Chiado, e quando começava a descer a Rua Garret, de repente na sua frente caminhavam um homem de camisa branca, cabelo grisalho, que gingava ao som da musica espalhada péla rua e, estratégicamente, em várias lojas.... O mesmo seguia de mão dada com uma mulher requintada, com um vestido cinzento coleante, cabelo esticado e revirado para fora, e que calçava uns Louboutins pretos, deslizando-os para que os mais conhecedores pudessem reconhecê-los nas inconfundiveis solas vermelhas....
Não teve dúvidas, o homem era o patrão da manhã.... mas a elegância da mulher que o acompanhava, contrastando com a que no mesmo dia dissera ser sua mulher, fê-la curiosa...
Seguiu-os.... por entre música, pessoas, e copos de bebidas várias que teimavam oferecer-lhe, dificultando-lhe a missão....perdeu-os de vista quando curvaram a esquina da Rua Garret com a Rua Nova do Almada...
Os saltos demasiado altos e o desgaste da calçada portuguesa não a deixaram arriscar a queda....
Pelo meio ainda lhe ofereceram um porta chaves... que não teve tempo de agradecer.... prosseguiu... e ainda vislumbrou o homem gingando numas calças pretas justas, e na camisa branca que sobressaia na noite e nas luzes que piscavam em várias lojas e na rua..... a mulher segurava-lhe na mão e deslizava sobre os 15cm de salto e as solas vermelhas....
- Belinha, Belinha... tu já viste? Abriu aqui uma loja « Custo Barcelona »!!!
As luzes e a cor rosa do nome que cintilavam, empurraram-na para dentro da loja e para a magia das cores em que se deixou perder....
Depois foi envolvida por um casaco misto de flores e padrões geométricos.... as cores as luzes... a musica e um copo de vodka que lhe ofereceram.... transportaram-na para outra dimensão.....
Momentos depois, descia a Rua Nova do Almada... o homem de camisa branca, cabelo grisalho, segurava-lhe na mão, enquanto deslizava sobre os sapatos pretos de laço e sola vermelha....nas ruas não havia ninguém.... apenas a lua iluminava a noite e no silêncio sobressaía a musica que ambos trauteavam « I want to know what love is ... »
- Sra. D. Dra. Belinha, são 9h, hoje não vai trabalhar?
Deu um salto do sofá onde, já tarde, quando chegou a casa, adormecera....
Sobre o sofá, ao seu lado, estava pousado um casaco « Custo Barcelona » com padrão misto de flores e desenhos geométricos....
- Sra. Dra. D. Belinha, enquanto dormia, veio cá um senhor, de camisa branca, entregar estes sapatos de sola vermelha.....
-E não disse nada, Alexandra?- perguntou.
- Apenas que pode ficar com eles....
Engoliu à pressa o iogurte e a bica.... saiu rumo ao novo dia....
No rádio o Markl reabilitava um antigo « Anuncio de jornal », em que uma moça de voz melada.... narrava as dificuldades de arranjar um trabalho de secretária ...honesto ....
Secretárias, trabalho... tudo isso a esperava....
Para trás deixára enigmas, um misterioso homem de camisa branca.... uns sapatos .... e luzes vagas que não sabia se de facto vira cintilar....
- Dra. Belinha, está lá fora uma senhora, parece ser a de ontem, a da empregada doméstica, mas hoje tem outro penteado, quer falar com a Dra.... posso mandar entrar?
Na sua frente sentaram-se, uma mulher na casa dos 50, vestida de forma simples, sóbria e cuidada, um homem na casa dos 30, camisa branca, cabelo um pouco comprido, e grisalho e uma outra mulher, que já devia ter entrado nos 40, desgrenhada, pouco cuidada e aparentado grande nervosismo.
- A senhora foi despedida? - perguntou à mulher desgrenhada e nervosa, que a olhava fixamente não conseguindo esconder a sua raiva.
- Despedia sim, e paguei-lhe tudo, não entendo porque estamos aqui. Eu e o meu marido - disse apontando o homem de camisa branca, que esboçava um sorriso timido -, somos pessoas sérias.
Contas feitas, e números regateados pela mesma mulher, sairam todos: a mulher na casa dos 50, empunhando o cheque, que garantia os seus direitos, o homem sorrindo, como entrara, e a primeira mulher plasmando no rosto a raiva que não conseguira nunca esconder.
Missão cumprinda, olhou o relógio, arrumou, após assinada alguma papelada, enquanto pensava que se aproximava a hora de sair rumo ao glamour de uma noite de compras VIP, e à promessa que recebera num e-mail, de uma das lojas mais prestigiadas da cidade, de ganhar um par de sapatos Louboutin,
As ruas de Lisboa fervilhavam de musica, cor, glamour e sedução.
Comiam-se gelados... bombons e marrones adoçavam as bocas .. havia maçãs, champanhe.... e muita gente bonita ... ou que havia feito todos os possiveis para o parecer....
Depois de deixar a Av. da Liberdade, e o restaurante japonês no Chiado, e quando começava a descer a Rua Garret, de repente na sua frente caminhavam um homem de camisa branca, cabelo grisalho, que gingava ao som da musica espalhada péla rua e, estratégicamente, em várias lojas.... O mesmo seguia de mão dada com uma mulher requintada, com um vestido cinzento coleante, cabelo esticado e revirado para fora, e que calçava uns Louboutins pretos, deslizando-os para que os mais conhecedores pudessem reconhecê-los nas inconfundiveis solas vermelhas....
Não teve dúvidas, o homem era o patrão da manhã.... mas a elegância da mulher que o acompanhava, contrastando com a que no mesmo dia dissera ser sua mulher, fê-la curiosa...
Seguiu-os.... por entre música, pessoas, e copos de bebidas várias que teimavam oferecer-lhe, dificultando-lhe a missão....perdeu-os de vista quando curvaram a esquina da Rua Garret com a Rua Nova do Almada...
Os saltos demasiado altos e o desgaste da calçada portuguesa não a deixaram arriscar a queda....
Pelo meio ainda lhe ofereceram um porta chaves... que não teve tempo de agradecer.... prosseguiu... e ainda vislumbrou o homem gingando numas calças pretas justas, e na camisa branca que sobressaia na noite e nas luzes que piscavam em várias lojas e na rua..... a mulher segurava-lhe na mão e deslizava sobre os 15cm de salto e as solas vermelhas....
- Belinha, Belinha... tu já viste? Abriu aqui uma loja « Custo Barcelona »!!!
As luzes e a cor rosa do nome que cintilavam, empurraram-na para dentro da loja e para a magia das cores em que se deixou perder....
Depois foi envolvida por um casaco misto de flores e padrões geométricos.... as cores as luzes... a musica e um copo de vodka que lhe ofereceram.... transportaram-na para outra dimensão.....
Momentos depois, descia a Rua Nova do Almada... o homem de camisa branca, cabelo grisalho, segurava-lhe na mão, enquanto deslizava sobre os sapatos pretos de laço e sola vermelha....nas ruas não havia ninguém.... apenas a lua iluminava a noite e no silêncio sobressaía a musica que ambos trauteavam « I want to know what love is ... »
- Sra. D. Dra. Belinha, são 9h, hoje não vai trabalhar?
Deu um salto do sofá onde, já tarde, quando chegou a casa, adormecera....
Sobre o sofá, ao seu lado, estava pousado um casaco « Custo Barcelona » com padrão misto de flores e desenhos geométricos....
- Sra. Dra. D. Belinha, enquanto dormia, veio cá um senhor, de camisa branca, entregar estes sapatos de sola vermelha.....
-E não disse nada, Alexandra?- perguntou.
- Apenas que pode ficar com eles....
Engoliu à pressa o iogurte e a bica.... saiu rumo ao novo dia....
No rádio o Markl reabilitava um antigo « Anuncio de jornal », em que uma moça de voz melada.... narrava as dificuldades de arranjar um trabalho de secretária ...honesto ....
Secretárias, trabalho... tudo isso a esperava....
Para trás deixára enigmas, um misterioso homem de camisa branca.... uns sapatos .... e luzes vagas que não sabia se de facto vira cintilar....
- Dra. Belinha, está lá fora uma senhora, parece ser a de ontem, a da empregada doméstica, mas hoje tem outro penteado, quer falar com a Dra.... posso mandar entrar?
o discreto charme do comunismo

a avenida da liberdade - só o nome já o indicia - é local de fortes contrastes citadinos. sempre me senti bem no meio do paradoxo da avenida - um fim de tarde, o trânsito caótico e a serena calma dos cafés e jardins. senhoras da burguesia lançam o seu charme trabalhado, homens de negócios passam indiferentes à beleza do fim do dia e estrangeiros de sandálias e mapas descem com lentidão de turistas. no crepúsculo do dia todos se cruzam no antigo passeio público de lisboa. vêem-se as últimas tendências nas grande lojas e a moda das lojas orientais nas prostitutas que passam. e não há manifestação que se preze que não recorra à avenida. a polícia já tem uma escala montada para numerar a multidão - se enche até à rua das pretas, são já uns bons milhares.
numa destas tardes ao subir o passeio da avenida verifico que à porta de um seu lugar icónico - a sede do partido comunista português, entrincheirada entre diversos bastiões do capitalismo (atrever-me-ia a dizer "selvagem") - um pequeno grupo ria, falava alto e emanava boa disposição. quando me aproximo constato com surpresa que um dos membros do grupo era uma senhora loura, muito branca, maquilhada e esticada, garrida num belo vestido azul eléctrico e que do alto dos seus saltos agulha compensados argumentava veementemente. quando me aproximo apercebo-me de que se tratava de Lili Caneças, vestida em jeito de gala, e que os seus interlocutores eram os porteiros da sede do partido. riam a bom rir. reviviam, seguramente, os bons velhos tempos na clandestinidade…
numa destas tardes ao subir o passeio da avenida verifico que à porta de um seu lugar icónico - a sede do partido comunista português, entrincheirada entre diversos bastiões do capitalismo (atrever-me-ia a dizer "selvagem") - um pequeno grupo ria, falava alto e emanava boa disposição. quando me aproximo constato com surpresa que um dos membros do grupo era uma senhora loura, muito branca, maquilhada e esticada, garrida num belo vestido azul eléctrico e que do alto dos seus saltos agulha compensados argumentava veementemente. quando me aproximo apercebo-me de que se tratava de Lili Caneças, vestida em jeito de gala, e que os seus interlocutores eram os porteiros da sede do partido. riam a bom rir. reviviam, seguramente, os bons velhos tempos na clandestinidade…
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
não, minha mãe, eu vou (fui) mesmo dançar.
ainda estou a digerir. a identificação é uma armadilha estética. o nó no estômago ainda aqui está. por razões óbvias, tu, anja intermitente, vais, por certo, apreciar o filme non, ma fille, tu n´iras pas danser. o enxerto anacrónico da história da mulher que procura o homem que lhe aguente o ritmo de dança por 12 horas seguidas é uma porta celta e pitoresca por onde se escapa uma gargalhada libertadora. a relação da mãe divorciada com os dois filhos é um anzol óbvio e doloroso quando comparado com a rede fininha em que o realizador nos enreda discretamente o olhar posto na relação entre a mãe divorciada na casa dos trinta avançados e a mãe/avó soixante-huitard conformada com o seu casamento de juventude. a ver, acho eu.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
bem-vindas
queridos seios, farta das arrumações na nova casa, sentei-me, ainda de rolos na cabeça, a saborear uma cerveja, a que se seguiram outras. a decoração é moderninha e minimalista a apelar a bebidas brancas mais destiladas. mas eu sou como as noivas do minho que trocam os vestidos pretos pelo branco nupcial. teimo em manter as socas pretas por debaixo dos fru-frus de chantilly. enquanto demoram, ouço um velho disco de vinil já meio roufenho na aparelhagem novinha em folha a apelar a saudosismos e purismos serôdios. a nuvem de tabaco e os eflúvios alcoólicos passam já, descansem, graças ao ambientador-cheiro-a-figueira comprado ali na loja zen da esquina e que traz à boca um sabor a terra seca e à memória residual um título fugitivo de rodapé de telejornal: 90 metros já escavados no resgate dos mineiros subterrados a 700 metros de profundidade. o chico (lindo, lindo) faz as honras da casa a cantar:
Comunico oficialmente
Que há lugar na minha mesa
Pode ser que você venha por mero favor,
Ou venha coberta de amor
Seja lá como for, venha sorrindo
Ah, bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
Que o luar está chamando,
Que os jardins estão florindo
Que eu estou sozinho
Cheio de anseio e de esperança,
Comunico a toda gente
Que há lugar na minha dança
Pode ser que você venha morar por aqui,
Ou venha pra se despedir
Não faz mal pode vir até mentindo
Ah, bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
Que o meu pinho está chorando,
Que o meu samba está pedindo
Que eu estou sozinho
Vem iluminar meu quarto escuro,
Vem entrando com o ar puro
Todo novo da manhã
Lá vem a minha estrela madrugada,
Vem a minha namorada
Vem amada, vem urgente, vem irmã
Bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
Que essa aurora está custando,
Que a cidade está dormindo
Que eu estou sozinho...
Comunico oficialmente
Que há lugar na minha mesa
Pode ser que você venha por mero favor,
Ou venha coberta de amor
Seja lá como for, venha sorrindo
Ah, bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
Que o luar está chamando,
Que os jardins estão florindo
Que eu estou sozinho
Cheio de anseio e de esperança,
Comunico a toda gente
Que há lugar na minha dança
Pode ser que você venha morar por aqui,
Ou venha pra se despedir
Não faz mal pode vir até mentindo
Ah, bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
Que o meu pinho está chorando,
Que o meu samba está pedindo
Que eu estou sozinho
Vem iluminar meu quarto escuro,
Vem entrando com o ar puro
Todo novo da manhã
Lá vem a minha estrela madrugada,
Vem a minha namorada
Vem amada, vem urgente, vem irmã
Bem-vinda, bem-vinda, bem-vinda
Que essa aurora está custando,
Que a cidade está dormindo
Que eu estou sozinho...
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