terça-feira, 26 de outubro de 2010

weird on top

Em nome da decência pública, os autarcas de Castellammare di Stabia, em Itália, aprovaram ontem uma lei que pune com coima de 25€ a 500€ quem andar na rua vestido com falta de decoro.
Deixem lá os grupos de revolta do Facebook. Em vez disso riam, com estes exemplares de leis em vigor um pouco pelo globo, segundo o jornal "i" de hoje:

-em Israel, é proibido levar ursos para a praia,

-em França, um porco não se pode chamar Napoleão,

-na Austrália, só um electricista especializado pode mudar uma lâmpada,

-na Suíça, é proibido estender roupa ao Domingo,

-na Dinamarca, é proibido arrancar com um automóvel enquanto estiver uma pessoa debaixo dele.

E o vencedor: em Lérida, Espanha, as prostitutas de beira de estrada estão a ser multadas. Porquê? Porque não usam colete reflector.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

história de uma bancarrota

Era muitas vezes um pai de família que ganhava 1.000€ e que queria comprar uma casa por 100.000€.
Pediu um empréstimo ao banco.
Ficou com um défice nas suas contas de 99.000€, mais coisa menos coisa, mas nunca pensou nisso.
Depois quis comprar um carro e pediu outro.
Depois quis mobílias novas e um LCD e telefonou para uns senhores que lhe emprestaram o dinheiro, sem muitas perguntas e sem que fossem preciso fiadores.
O défice das suas contas já não tinha conta, nem ele sabia qual era.
Um belo dia ia a passar no centro comercial, onde tinha ido resmungar porque o canal de desporto não estava a funcionar bem lá em casa, e ofereceram-lhe um cartão de crédito, azul, com 500€ à sua disposição.
Vinha mesmo a calhar, porque quando tinha de levar o carro à revisão ou pagar os livros escolares o dinheiro faltava e tinha de ir pedir favores à avó de família, que esperava pelas férias e pelo Natal para receber o que generosamente emprestara, embora com juros, que não era nenhuma santa…
Deitava-lhe contas que o cartão cobriria agora as pequenas faltas e que o 13º e o 14º também haveriam de cobrir as despesas do cartão, sem pedir favores a ninguém.

Na ceia de Natal de um desses gloriosos anos, a irmã Manuela, à vista de uma fabulosa pista de comboios e de um aeroporto modelista oferecido aos sobrinhos (que, em boa verdade, mais embevecia o pai de família), comprados com o cartãozito azul, avisou o pai que aquilo eram despesas a mais e que estava preocupada com o futuro dos sobrinhos, que ainda haviam de sofrer com tanta prodigalidade.
O rating da família estava a contas com a desgraça, disse-lhe a irmã, mas o pai de família achou que, não notando nada, logo se via.

Sem que o pai de família soubesse, ou lhe interessasse por aí além, o negócio começou a correr mal aos senhores do telefone; parece que tinham emprestado dinheiro a impulsos telefónicos a gente que não tinha como pagar!
O banco que todos os meses recebia do pai de família as prestações do empréstimo da casa, comprou, aos senhores do telefone, a dívida das mobílias e do LCD do pai de família, passando a receber todos os meses as prestações que ele pagava.
A seu tempo, o banco precisou de reforçar o seu capital, à conta de impulsos também exagerados, e vendeu a dívida das mobílias e do LCD a um banco estrangeiro; não importa de onde, o pai de família não soube e não quis saber, pagava sempre o mesmo.

Num dia mau, o pai de família despistou-se ao volante do seu carro, que ficou em muito mau estado.
O seguro, contra terceiros, não servia para nada.
Corria o mês de Janeiro, não havia subsídio à vista e o cartãozito azul não dava para aquilo, mesmo que ainda tivesse dinheiro disponível, que já não tinha.
Havia que pedir à avó de família, mais uma vez.
Mas a avó, numa conversa com a mãe, apercebeu-se do rating da família, a contas com a desgraça.
Com medo de que nunca viesse a receber o capital, exigiu-lhe juros elevados, que devia pagar todos os meses, sempre era algum que não se perdia.

Não havia outro remédio senão aceitar.
Mas havia que acalmar a avó, não fosse necessário recorrer-lhe outra vez e enfrentar nova e sufocante subida de juros.

Que fez o pai de família?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Felicidade ( s )

Cresceu na Chacara da Fumaça, e foi lá que ao som do Samba, ainda menina, se enrolou, primeiro nos braços e depois nos abraços de Zé João, homem rude, que não resitira á frescura dos seios roliços, que se debruçavam, todos os dias, no balcão da venda de hortaliça.

Zé João saciou a vontade e o desejo, que a frescura haviam despertado, durante cinco longos anos, e partiu depois, sem palavras, como chegara, deixando-a, murcha e sem viço, tal como as hortaliças no final da venda... e com os frutos do desejo incontido: João José e Manuel João.

A braços com a venda, e sem os abraços, que lhe desgastaram o viço e lhe deixaram duas bocas para sustentar, Malu, entregou o negócio e o coração a um chileno emigrado, que chegara ao Brasil em busca de sol, caipirinhas, e mulheres, que o fizessem esquecer a paixão por Dolores, mulher de vários homens e de muitas artes, nas quais, todos os que caiam na sua cama, se deixavam enredar.

Malu e Diego... viram dias a fio nascer o sol... partilharam desejos... cansaram dias e noites... e cansaram-se da dureza dos dias e de não poderem saciar os rapazes só com o amor que sentiam....
Na favela onde viviam cada um ditava as leis porque regia a vida....

Um dia à beira do desgaste e da escassez de meios, que não se bastava com afectos, Malu e Diego, juntaram os proventos de um negócio de guaranás e goiabas, e rumaram a Lisboa com os rapazes, quase adolescentes.

Diego não teve dificuldade em arranjar emprego numa fábrica de rolhas na margem Sul... onde não lhe exigiram documentos, nem legalização. Os rapazes passaram também a acompanhá-lo e a ajudar, na embalagem de rolhas e tampas....

A pouco e pouco foram ganhando o respeito e a consideração de companheiros e vizinhos....a que não foi alheio o facto de morarem paredes meias com o Palácio de Belém...chegando a ser apelidados de « amigos do Presidente »...

Malu ganhou ainda a confiança da patroa a quem passou a servir diáriamante, na gestão doméstica....
Depois, rendeu-se à facilidade de meios, à escassez de controle e ao excesso de confiança, e passou a fazer render o tempo...servindo no mesmo horário e com cumulação de salários, a patroa, o ex-marido e uma amiga, desta...

A vida começou finalmente a sorrir a Malu e Diego.... os quatro salários e os dois subsidios de desemprego, deixaram-nos amealhar alguns cêntimos, que se engrossaram em euros, e lhes permitiram comprar um carrito em segunda mão, que Diego conduz, velozmente, e sem carta, aos fins-de-semana, na Marginal... e à segunda-feira à noite, para ir levar Malu ao shopping onde, omitindo sempre a emissão de facturas, factura mais uns euros, alongando com gel as unhas das madames....sem tormentos de IVA....e com a serenidade permitida pela estabilidade conjuntural....

Quando alguém um dia lhe disse que podem ter problemas com a policia e com a lei.... Malu respondeu incrédula:
- Pouxa, neste País tudo é crime?!?! Não acredito, não!

Malu e Diego vivem o dia a dia serenos e são agora completamente felizes....
E, enquanto os patrões mantém a televisão ligada, na expectativa de ver o desfecho da palhaçada.... eles agarram no comando, desligam a TV.. e saiem, gargalhando, para encontrar um boteco e beber uma caipirinha....






República

Já sabiamos. Se o Ramalho Eanes estava na televisão e começava o discurso a chamar-nos portugueses, naquele tom solene e monocórdico tão próprio, era porque algo de grave se passava com a Pátria. Apesar da nossa pouca idade, eu e os meus irmãos moderávamos o tilintar dos talheres, tentávamos calar a conversa e fazíamos tudo por tudo para que, naquele momento vital para a Nação, não rebentasse um ataque de riso fraternal.

Os olhos dos nossos pais já estavam vidrados no écran a preto e branco. Seria o FMI? A bancarrota? Um golpe revolucionário de direita? Fosse o que fosse, tinham de ouvir com solenidade. Um homem da Revolução não enganava os seus concidadãos. Não lhes chamava portugueses com aquele tom de voz em vão.

E era assim. Apesar da sua figura caricata, da farda militar já desajustada aos tempos, das patilhas desmesuradas e do penteado da Manela, era o nosso Presidente. Representava a República e a República nunca era ridícula e merecia respeito. E aquele Presidente podia não ser o melhor do Mundo, mas de certeza que estava a tentar fazer o seu melhor. Até os monárquicos assim pensavam. Quase diria que, na altura, nunca ninguém tinha visto um boy. Sabia-se que existia, mas cá, de certeza, que ainda não havia disso.

Tal como nesses tempos, estamos em crise e há medidas a comunicar ao país. Só que, quando vemos o metrosexual Sócrates e o pobre Cavaco na televisão, desde logo,o nosso cérebro recusa violentamente a ideia de que representam a República. Em seguida, a nossa vontade é a de mudar, imediatamente, de canal (felizmente a tv cabo já foi inventada e temos setenta canais à disposição). E à última da hora só não mudamos para a fox life, para a 20ª repetição do episódio da série Irmãos e Irmãs em que a Kitty descobre que sofre de cancro, porque pensamos: Deixa lá ver o que estes vão dizer para saber onde é que esta palhaçada vai acabar!

E é quase sem espanto que ficamos a saber o que já sabiamos. Que em vez de representarem a República, eles e os seus boys não hesitam em tornar sua a res publica. Que em vez de darem o seu melhor pelo país, fazem-no pelos seus interesses privados. Que usam e abusam da comunicação social para manipular e aterrorizar o povo, que já não sabe no que acreditar. Que todos os outros políticos farão exactamente o mesmo quando colocados no seu lugar. Para onde terá ido a República? Que saudades da inocência e da palavra portugueses a invadir o meu jantar.